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AS VOLTAS (E REVOLTAS) DO ORÇAMENTO!
Após uma interminável encenação sobre os (de) méritos do OGE apresentado pelo PS, os partidos da sempre patriótica direita portuguesa, num supremo sacrifício em prol da estabilização política e numa derradeira demonstração do seu conhecido pendor para o diálogo e para a concertação, decidiram… abster-se! Como se jamais tal coisa lhes tivesse sequer passado pela cabeça...
E deste modo, num gesto de supremo altruísmo, abnegação e elevada consciência nacional, abdicaram dos seus mais nobres princípios e permitiram que o Orçamento “passasse”, o Governo governasse e o País retomasse o rumo.
É assim a direita portuguesa, sempre a pensar no bem comum e sempre aberta ao diálogo e à cooperação! Como, aliás, se tem constatado de há anos a esta parte e em especial nos tempos mais recentes, com campanhas eleitorais de elevadíssimo nível e sem recurso a qualquer golpe sujo.
A verdade porém é que, se necessário fosse, a direita votaria até a favor.
Porque votar contra implicaria - face às posições assumidas pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda - o imediato “chumbo” do OGE e a consequente impossibilidade do governo “garantir os serviços mínimos”, a sua inerente demissão, a dissolução da Assembleia e a convocação de novas eleições no prazo estipulado por lei.
Eleições que o PSD e o PP perderiam de novo, inevitavelmente, possibilitando nova vitória do PS a curto prazo (com ou sem maioria absoluta), formação de nova Assembleia e nomeação de novo executivo.
A perspectiva, portanto, de uma situação não muito distinta da actual.
A menos que sua excelência o Sr. Presidente da República tirasse algum coelho da cartola e optasse por mais alguma das suas destemperadas intervenções.
Dito de outro modo: a mais que provável derrota eleitoral é com efeito, a razão de fundo (e a única razão, afinal…) desta súbita e estranha propensão da direita para o consenso e para a cooperação.
Se, por exemplo, as sondagens revelassem uma inversão da tendência de voto susceptível de provocar a derrota do PS, há muito que a direita tinha mandado os interesses do País e do povo português às urtigas.
E, à primeira oportunidade - com a inevitável bênção de Cavaco Silva - o governo cairia com estrondo.
Chama-se a isto, senhores do PSD e do PP, uma mentira descarada embrulhada num desavergonhado cinismo !
Tudo o resto é treta e mero jogo de cintura.