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13 de outubro de 2009

POLÍTICA INTERNACIONAL # 001

PACHECO PEREIRA E O NOBEL DA PAZ

Há pessoas que, por mera decência, há muito deveriam ter abdicado de escrever "em público"! Não se trata de apurar aqui se escrevem “mal” (no sentido estrutural do termo) nem se escrevem “chato” (no sentido empático da palavra) mas sim por razões de elementar recato intelectual. Pacheco Pereira é uma delas. Em jornalismo não basta escrever sem erros ortográficos para se escrever bem...

E, por tais motivos, só muito raramente (como tanta gente, aliás…) tenho paciência para o ler. 

Mas, de vez em quando, dá-me para passar os olhos pelos seus escritos ou ouvir transversalmente uma das suas intervenções, na expectativa de dali surgir algo de interessante, ao menos uma vez. Mais valia estar quieto. Não só essa insanável sensação de fastio se mantém como a ela se junta, quase invariavelmente, a duma irreprimível revolta!

Além de sumamente irritante e pretensioso, Pacheco Pereira não motiva, não emociona, não inova, não tem carisma nem graça.  

Este ex-militante do PCP-ML e ex-aspirante a militante do PCP, que depois de uma pirueta de 180º está agora definitivamente colado à direita mais cega e retrógrada, defendeu (e continua ainda a defender) crimes de guerra abomináveis como as invasões do Iraque e do Líbano, para além de muitas outras posições inconcebíveis no plano do direito e da justiça internacionais. 

Justifica, com uma obsessão doentia, pontos de vista lamentáveis e quase unanimemente denunciados, como os expressos no recente e lamentável discurso de Cavaco Silva, com uma “argumentação” que raia o absurdo, ao mesmo tempo que alinha lado a lado com os argumentos disparatados e duma total secura de ideias, da sua ex-adversária de partido e agora “amicíssima” Manuela Ferreira Leite, a troco de um lugar nas autarquias (um prato de lentilhas, afinal).

Este “opinador” profissional, a exemplo de outros personagens caricatos e sem pudor jornalístico - como o seu amigo José Manuel Fernandes – há anos que se vem servindo de forma quase patológica de tribunas privilegiadas - jornais de grande tiragem, estações de rádio e canais de televisão - para destilar o veneno das suas ideias e auferir, à custa disso, de bons proventos.

Não contente com isso e com tantas outras opiniões inacreditáveis espalhadas aos quatro ventos - de que é bom exemplo o seu “célebre” blogue - resolveu, uma vez mais, dar “um ar diferente”, como tanto gosta de fazer alarde.

E, vai daí, num artigo inenarrável que tem tanto de despropositado como de perigoso, deu-lhe para criticar o recente prémio Nobel da Paz atribuído a Baraka Obama, com o argumento de que o actual Presidente dos EUA pouco ou nada tinha feito para o merecer. E, no seu habitual estilo a oscilar entre o ódio camuflado e a demagogia primária, D. Pacheco ergueu-se em bicos de pés e, do alto da sua cátedra - neste caso da sua coluna no "Público" - falou à populaça, num tom entre o enfastiado e o agastado com todos os que têm a ousadia de duvidar da sua sapiência.

Na sua prosa apocalíptica, como que ao som das Valquírias, não faltaram incentivos implícitos do tipo "bradar às armas" para manter em sentido todos os infiéis, "arreganhando o dente" ao Irão e à Coreia, aos palestianos e ao Hamas, a que se seguiriam, quiçá, cubanos, líbios, chineses e russos, com nova passagem obrigatória e definitiva por solo iraquiano e afegão, "se todos não se portassem direitinho". Enfim, Pacheco Pereira, o neo-cruzado, delirante, no melhor do seu pior!  

Como é possível um "historiador" difundir estas ideias e sair impávido e sereno para a pacatez do seu almoço ou para uma tertúlia de amigos à mesa do café?!    

Mas… será que Pacheco Pereira, como qualquer cidadão no pleno uso das suas faculdades, não tem o direito de estar ou não de acordo com a escolha de Obama para prémio Nobel? Obviamente que sim. A própria escolha não será em si inteiramente “pacífica” (passe a expressão). O problema é que a justificação objectiva para Pacheco Pereira estar em desacordo com tal escolha é, em primeiro lugar porque Obama não se enquadra nas suas tendências políticas, em segundo lugar porque, acha Pacheco, Obama é um pacifista e os pacifistas são uma espécie perigosa e ameaçadora para a sociedade. Dito por outras palavras, para Pacheco Pereira é (pasme-se) um desaforo a escolha de um pacifista para Nobel da Paz!

A eleição de Obama parece-me uma espécie de compromisso entre o que já foi feito em prol da Paz e o capital de esperança gerado para o muito que ainda está nas suas mãos poder vir a fazer.   

Baraka Obama foi, como toda a gente sabe, um sinal de esperança para todos, gerando em torno da sua figura um movimento quase ecuménico que alastrou como uma onda por todo o mundo. Mundo esse angustiado, aterrorizado, perplexo, pelos desmandos e a estupidez do seu criminoso antecessor.

Deu, nestes poucos meses, passos mais importantes a caminho da Paz que toda a geração Bush – pai e filho – em todos os seus mandatos.

Tem pela frente, é certo, uma tarefa gigantesca, um árduo caminho a percorrer, aliás já muito minado – desde o início - por toda a espécie de lobbies, ardis, pressões e ameaças.

E já cometeu, é certo, vários erros, a meu ver, e muitos mais irá cometer, sem dúvida.

Mas não os erros que este nosso escriba de serviço – ainda por cima “historiador” – lhe atribui: concretamente o de não exibir o “braço musculado da democracia americana”.

O caminho certo de Obama só pode ser o da Paz e o da coexistência pacífica de várias culturas e de povos diferentes. Numa posição de firmeza mas de reciprocidade e de tacto político. É a única via possível. E é nesse caminho que temos de o incentivar e apoiar. Porque o nosso presente e o nosso futuro não se compadecem com desvarios de belicistas de gabinete (que são os mais perigosos).  

Pacheco Pereira nunca digeriu bem a derrota de Bush, o total descrédito das suas teorias megalómanas e o fim de um dos mais sinistros períodos da história dos EUA.

Pacheco Pereira esteve vergonhosamente conivente com Bush e as suas ideias, sempre na derradeira esperança de uma – uma só! – prova que sustentasse a habitual “profundidade” da sua “argumentação”. Quanto mais não fosse para justificar que tinha andado à frente do seu tempo. Prova essa que, a surgir, lhe daria a oportunidade de ver até com muito bons olhos, pelo menos, a candidatura de Bush ao Nobel da Paz!  Mas essa (s) “prova (s)” não apareceram. As “razões” de um hediondo crime de guerra (a invasão do Iraque) esfumaram-se. E Pacheco Pereira, como em todas as batalhas que perde, é um ressabiado!   

Portugal é pobre – cada vez mais – em elites intelectuais. Mas não é ainda uma “terra de cegos onde quem tem olho é rei”. Em primeiro lugar porque não somos tão cegos como se pensa; em segundo, porque nem Pacheco Pereira tem olho nem nunca seria rei onde quer que fosse. É que, de anos e anos de intensa labuta como “mentor espiritual” dos Portugueses, contam-se pelos dedos as ideias deste “pensador” que o País tenha compreendido, enraizado ou interiorizado. Será que ainda não percebeu que não há pachorra?   

       

Porto, 12 de Outubro de 2009  



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