( Do livro, não publicado,
"TONS & SONS" )
DIAS DE CINZA
Falo a sós comigo
há tanto que me sinto o meu melhor amigo
A sala está no coração do nevoeiro
e toda a claridade se ocultou de corpo inteiro
Numa mão
a evidência de um cigarro apagado
Noutra mão
uma carta suspensa
Suspensa do tecto
uma luz moribunda
No espelho
três décadas de um rosto marcado
Vazado na mesa
o resto do álcool bebido de um trago
Falo a sós comigo
há tanto tempo que me sinto o meu melhor amigo
A sala
está no coração do nevoeiro
Só há claridade
no interior de cada dia seguinte
Trago neste silêncio felino
todo o futuro que posso carregar num pulso
todo o futuro ainda não reinventado
adormecido como um recém-nascido
E também todo o passado
erguido no outro pulso
Atravessado a nado para o outro lado que conheço
apenas como se conhece qualquer desconhecido
Trago neste silêncio felino
um orgasmo de presente escondido
Que vou desenvolvendo pouco a pouco
até dar corpo
a um corpo novo de menino
Porto 1985 - Junho
És o meu poeta preferido ;)!
ResponderEliminarGostei muito deste poema...
Bjokinhas