Há quem não goste de Saramago (escritor e homem) porque é de esquerda e/ou porque é ateu!
Há quem não goste de Saramago por todas estas razões conjuntamente.
As razões dos primeiros, compreendem-se.
As razões dos segundos, lamentam-se.
As razões dos terceiros, deploram-se.
Estes três grupos constituem, provavelmente, 90% dos casos daqueles que não gostam!
E há quem não goste de Saramago por razões de estética literária. Que são inteiramente compreensíveis. Mas este grupo não representará mais que 10%!
Depois… há os que gostam de Saramago!
Não sei quantos nem em que percentagem – haverá quem sabe? - em Portugal e por esse mundo fora. Mas são, seguramente, muitos!
Perseguido política e ideologicamente - muitas vezes por imbecis e medíocres "patos bravos" de alguns quadrantes, que passarão completa e anonimamente ao lado da História – Saramago, nos momentos mais altos do seu reconhecimento internacional, foi traído e vexado pela alguns dos seus próprios compatriotas, que em atitudes e tomadas de posição vergonhgosas o atacaram e vilipendiaram quando dele se deveriam orgulhar.
A igreja católica, incapaz de uma discussão coerente das suas próprias contradições e dos seus crimes do passado – e do presente, como se viria a constatar posteriormente com a catadupa de casos de pedofilia – limitou-se a “excomungar” permanentemente o escritor pelas suas ideias.
Em 1992 (!!!), o romance de José Saramago O Evangelho segundo Jesus Cristo foi cortado da lista dos concorrentes ao Prémio Literário Europeu, pelo obscuro e mesquinho Subsecretário de Estado da Cultura (!!!) da época, Sousa Lara, com o apoio – segundo declarações do próprio Sousa Lara – do 1º ministro Cavaco Silva, porque “A obra atacou princípios que têm a ver com o património religioso dos portugueses. Longe de os unir, dividiu-os”!
Quem é Sousa Lara? Quem o conhecia antes? Quem o conhecerá depois? Quem lhe passou procuração para autorizar ou vetar uma obra literária (dum futuro prémio Nobel). Isto não foi um mero episódio de ficção do Portugal de Abril. Foi um episódio negro da nossa democracia e um exemplo da dura realidade protofascista, sempre em estado larvar!
Logo a seguir à atribuição do Nobel, o ódio recrudesceu.
O próprio Vaticano lamentou a atribuição do prémio a um "comunista inveterado” (se fosse a um fascista provavelmente estaria de acordo).
Saramago como que se cansou do seu próprio País. E isto é o pior que pode acontecer a um homem.
Um País, na verdade, capaz do melhor e do pior: da solidariedade espontânea à mesquinhez mais sórdida, da idolatria descontrolada ao ódio mais irracional. Basta ver os comentários inclassificáveis que hoje - imediatamente após a sua morte - se espalharam pela blogosfera!
Saramago será sempre recordado como um homem de enorme estatura intelectual.
Muitas das melhores páginas da literatura (de toda a literatura...) que tive o privilégio de apreciar foram de sua lavra. Muitas das tomadas de posição mais frontais e incisivas traduziram-se em palavras suas.
Foi uma figura incontornável do pensamento dos séculos XX e XXI.
Portugal está de luto. E muito, muito mais pobre!
É uma grande verdade! Obrigada por mais uma humilde homenagem (serão todas humildes perante um génio da literatura) a Saramago, que deixará, sem dúvida, muitas saudades.
ResponderEliminar