Pesquisar neste blogue

7 de julho de 2011

Política Nacional # 006









"AGÊNCIAS DE RATING" (ou AGÊNCIAS DE...RAPING?)

- MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES!



Não fora a extrema gravidade da situação e poderíamos considerar tudo isto como uma tragicomédia de contornos indefinidos e sem final previsto.
Portugal - tal como antes a Grécia e a Irlanda (e a seguir a Espanha, a Inglaterra, a França, e por aí fora, até chegar à “inatingível” Alemanha…) afunda-se rapidamente face à chantagem inqualificável de uma quadrilha de malfeitores que assumiu o controlo dos destinos da Europa.
Estas instituições sem rosto, que dão pelo nome de “agências de rating” - as mais conhecidas das quais são a “Standard & Poor´s”, a “Moody's”, a “Investor Services” e a “Fitch Ratings” - contrariamente à ideia prevalecente em alguns sectores, nomeadamente ligados à análise da(s) economia(s), não são imprescindíveis para quem empresta dinheiro! São imprescindíveis para quem rouba dinheiro a juros obscenos, enriquecendo fraudulentamente à custa da miséria dos povos e para quem está claramente ao serviço de outras áreas de influência económica a nível mundial, apostadas em aniquilar a concorrência. E, por maioria de razão, em aniquilar o projecto europeu, por ser socialmente o mais equilibrado e o menos neoliberal.
Também não colhe minimamente o “argumento” de que quem investe o seu dinheiro tem que ter a compensação pelo risco que corre e portanto de subir os juros cobrados para taxas incomportáveis! É uma desculpa de “mau pagador” ou, se quisermos, de “mau investidor”. E porquê?
Raciocinemos pelo senso comum. Imaginemos que alguém nos pedia uma verba avultada de dinheiro emprestado que, em circunstâncias normais, nos renderia, por exemplo, um juro equilibrado de 3,5%. Suponhamos agora que tínhamos concluído, através de informações colhidas por terceiros – uma espécie de “agência de rating” doméstica”… – que quem nos pediu o dinheiro corria sérios riscos de não poder solver a dívida no seu vencimento. Qual seria a nossa decisão lógica? Aumentar os juros de 3,5% para 10, 12 ou 15% para “cobrir” o risco de incumprimento da dívida ou, pura e simplesmente, recusar o empréstimo? Não é preciso ser um desses economistas iluminados da nossa praça para se perceber que… não emprestávamos um cêntimo! Porque se o devedor fosse considerado insolvente, a questão das taxas de juro não teria obviamente qualquer significado, visto que não iríamos receber nem capital nem juros, fossem eles quais fossem!
Então porque é que os “investidores” não deixam pura e simplesmente de nos emprestar dinheiro? Ora, porque a ´”lógica dos investidores” e a “lógica dos “mercados” (a destes “investidores” e a “destes mercados”, isto é, a lógica destes abutres) é precisamente essa: aproveitar o efeito psicológico provocado por estas “análises” para, criminosamente, devorar os recursos dos países em dificuldades, num “vortex” incontrolável que não tem rigorosamente nada a ver com as medidas implementadas em cada país para fazer face aos seus desequilíbrios. Trata-se de roubar o máximo possível no menor espaço de tempo, escolhendo nova vítima à medida que cada uma das anteriores vai sucumbindo por asfixia, como faria qualquer patifório assaltante de rua.
Num mundo civilizado e minimamente justo, toda esta gente deveria estar atrás das grades por crimes contra a humanidade. Crimes tão graves como a invasão do Iraque, ainda que com outros contornos e de menor impacto mediático.
Também já percebemos (ou devíamos ter percebido) que país (es) é que esta gente serve!
Mas… a questão é, para nós portugueses, também outra!
Ou não tínhamos entendido isto (e outras coisas de “pouca importância” como a existência de uma crise económica gravíssima, a pior crise económica mundial desde 1929, curiosamente ambas nascidas nos EUA …) até há duas semanas atrás, ou - e isso é muito mais grave! – tínhamos entendido tudo perfeitamente mas, para atingir inconfessáveis objectivos políticos como a tarefa de trucidar a qualquer preço o governo anterior, não só ignorámos o papel decisivo destas “agências” (e da já referida crise económica) no descontrolo orçamental da nossa economia como ainda, cobardemente e sem o mínimo pudor patriótico, aceitámos e justificámos mesmo o seu criminoso papel!
Entendamo-nos. As “carpideiras” do actual governo - Passos Coelho, Cavaco Silva, ministros, secretários de estado, banqueiros, empresários, comunicação social, a habitual (e insuportável) ”troupe dos economistas” e até… Durão Barroso - que de repente se erguem a uma só voz e se revoltam pela classificação de “lixo” que a “Moody’s” acaba de nos atribuir, são as mesmas “carpideiras” que, durante meses, não mexeram um dedo para denunciar frontalmente os criminosos golpes financeiros dessas mesmas agências, quando o governo de Sócrates estava em funções. E mais: lá bem no íntimo até muito se alegraram pelo contributo delas para que o governo anterior caísse e, consequentemente, a (sua) direita chegasse rapidamente ao poder!
De que estava esta gente à espera? Que quando a “coligação de competências” do PSD/PP assumisse funções os “mercados” se pacificassem como por milagre, se ajoelhassem aos nossos pés, siderados por tanta “sapiência e capacidade técnica” e os juros passassem de imediato para 3 ou 4%? Que todos os usurários do capital passassem a prestar-nos vassalagem? Não, meus senhores, o dinheiro não tem rosto. E muito menos quando está sem controlo, como é o caso da “gente que esta gente serve”, característica do tipo de sociedade que vocês querem escolher para Portugal, a do neoliberalismo sem controlo. E as “agências de rating” não vos têm em qualquer conta, estão-se marimbando para a vossa “coligação” e para as vossas “sumidades”, gordas de licenciaturas, mestrados, doutoramentos e pós doutoramentos de luxo em universidades estrangeiras. E vão continuar a tratar-nos como “lixo” e a considerar como “lixo” as vossas opiniões e  as opiniões e/ou medidas deste ou de outro qualquer governo dos países periféricos, enquanto não houver dirigentes respeitáveis (e respeitados) à altura, que se imponham e façam ouvir a sua voz e os seus projectos lá fora e não títeres e múmias políticas que “nunca têm nada a ver com nenhum assunto”, limitando-se a acenar servilmente com a cabeça, ao auto elogio bacoco ou a assobiar para o lado (sabem de quem falo ou é preciso um desenho?).
Vem também a propósito destas considerações – embora não pareça… - lembrar que a obsessão demencial e doentia deste executivo pelas privatizações não vai ter mais resultado do que as “fantásticas” medidas até agora tomadas, isto é, nada mais vai significar que a redução do “estado social” aos serviços mínimos, a venda a preços de saldo das empresas estatais rentáveis aos privados, a liquidação dos recursos do País e o seu virtual desaparecimento, com a total hipoteca de Portugal e a perda completa da nossa identidade e independência.
E nós, cidadãos, que fazemos, como reagimos? De que modo nos revoltamos? Será que não temos nada a ver com isto? 
Devíamos ter. Porque estamos em democracia e devíamos ser cidadãos responsáveis. Tolerantes e equilibrados quando fosse o caso, reactivos, criativos e actuantes quando necessário! 
Pois...vamo-nos entretendo alegremente com as transferências do futebol, os “casos Maddie”, as novelas da TVI ou os “Ídolos”. Ou com assuntos “importantíssimos” como os casos "Freeport” e "Moura Guedes", os diplomas do Sócrates ou a sua (pretensa) ida para França para estudar filosofia!
Enquanto estivermos todos (incluindo muitos milhares de licenciados) ocupados com assuntos desta “importância” e “transcendência” e no linchamento das poucas figuras públicas com valor, quem está no poder agradece!
Porque a culpa não é só dos políticos (“mentirosos”, “corruptos”, “todos iguais”, etc. etc., como é voz corrente). A culpa é de todos os portugueses que, ou não intervêm ou, se o fazem – e tantas vezes superficialmente e mal - não têm a hombridade de reconhecer quando erram.   
É que ainda não vi ninguém que tivesse votado à direita, perante as notícias deste últimos dias, ter tido a humildade de se retratar pelas posições de tolerância e de apoio assumidas até há uma semana atrás face ao terrorismo das “agências de rating” (quando Sócrates estava no poder) em contraponto com tanta revolta agora manifestada face às mesmíssimas agências (quando Passos Coelho está no poder). O que é que mudou, afinal? Será que Sócrates comprou agora as “agências de rating”, que antes eram tão boas e agora são tão más? Que é que distingue, afinal, o comum dos cidadãos dos tão badalados políticos, quando se trata de distorcer e/ou ignorar a verdade?
Enfim continuemos assim: ora egocêntricos, intolerantes e injustos, ora atávicos, preguiçosos e sem espírito crítico. Conforme as cores e as conveniências.
Como dizia o outro que caiu de cem metros de altura quando chegou a um metro do solo: até agora tudo bem!

2 comentários:

  1. Já falamos sobre o tema e o que mais me faz impressão é a inoperância e fraqueza da governação da união europeia."Comandada" por um português!, a EU vê os seus membros sacarem até aos ossos os já pouco recursos financeiros dos mais pobres, cavando mais fundo o fosso das desigualdades. Mas vê aqui outra opinião: http://www.youtube.com/watch?v=DYXYBj1K9C4&feature=share

    Abraço

    ResponderEliminar
  2. Concordo com tudo o que foi dito! Acrescentaria apenas ao texto o malabarista do Sr. Silva, que contribuiu de forma decisiva para o que Portugal e os Portugueses estejam a passar por esta situação. Agora até faz de PM anunciando mais agricultura, mais pescas e mais pagamento de taxas e impostos. Agora é liberalizar, liberalizar, privado, privado....

    ResponderEliminar